Todo dia 8 de março é comum sermos bombardeados por propagandas e vendas de buquês de flores em todos os lugares. As mulheres também recebem rosas e ramalhetes nos supermercados, bancos e lojas. A homenagem é justa, mas para o feminismo, transformar o Dia Internacional da Mulher numa ocasião comemorativa em que as mulheres recebem presentes é uma distorção do propósito da data, idealizada para que se rememorem os direitos conquistados num sistema que ainda insiste em manter diferenças entre os gêneros, seja no trabalho, na política e em outros âmbitos da vida social em que a participação da mulher muitas vezes não é permitida ou limitada. O dia 8 de março é também dia de debater e mostrar à sociedade que ainda há muitas diferenças a serem derrubadas para que tenhamos uma sociedade igualitária.
A Maqmóveis acredita que a educação é uma das principais ferramentas para que meninas e meninos tenham igualdade de condições no momento de frequentar uma universidade ou disputar uma vaga de emprego. A educação também é o meio de conscientizar a sociedade de que as diferenças de tratamento dadas a homens e mulheres são construções sociais muitas vezes danosas e que podem – e devem – ser eliminadas. Não é de admirar, portanto, que a luta por uma educação melhor, igualitária, inclusiva e acessível a toda a população tenha mulheres como grandes ativistas no passado e no presente. Hoje, apresentamos algumas delas:
Dorina Nowill foi uma educadora e filantropa nascida em São Paulo (SP) em 1919, que ficou cega aos 17 anos em decorrência de uma doença não diagnosticada. Assim mesmo, ela conseguiu seguir estudando no curso para formação de professoras, e lutou para conquistar o direito de outra aluna cega prosseguir nos estudos, na mesma escola. Em 1945, convenceu os administradores do colégio a implementarem um curso de especialização de professores para ensino de cegos. Já no ano seguinte, criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que visava aumentar o número de títulos disponíveis em Braille. Seu ativismo a levou aos EUA, onde se especializou em educação de cegos, e, na volta ao Brasil, nunca parou de lutar pela inclusão de deficientes visuais na escola, no mercado de trabalho e na sociedade. A Lei de Integração Escolar, de 1956, é resultado da batalha de Dorina para que os deficientes visuais e crianças com outras deficiências pudessem frequentar a escola. De 1961 a 1973, ela dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Até sua morte, aos 91 anos, a educadora continuou atuando pelos direitos e a inclusão dos deficientes visuais.
Antonieta de Barros talvez não seja um nome tão conhecido no Brasil, mas essa educadora, jornalista e política nascida em Florianópolis (SC) em 1901 ostenta um feito importantíssimo: foi a primeira mulher negra eleita no país, em 1934. Foi ela também a criadora de uma data que todos nós comemoramos: 15 de outubro, dia do professor, idealizado por Antonieta para reconhecimento do trabalho dos educadores, e da importância da educação. Antonieta ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, mas antes de chegar lá, ela seguiu a trilha da educação: filha de uma lavadeira, foi alfabetizada aos cinco anos, e conseguiu estudar até formar-se professora na Escola Normal Catarinense. Consciente do papel da educação para melhorar a condição de pessoas marginalizadas, antes mesmo de receber seu diploma no magistério ela inaugurou, em 1922, o Curso Particular de Alfabetização Antonieta de Barros, que visava combater o analfabetismo entre adultos carentes, e preparar alunos para os exames de admissão em escolas de prestígio. Nessa mesma época iniciou seu ativismo político ao militar com a Liga do Magistério, e aos 25 anos, já atuava com jornalista e escritora, assinando artigos que abordavam questões sociais, defendiam o acesso à educação para todos, a necessidade de redução do analfabetismo, e apontavam as dificuldades existentes para as mulheres seguirem no ensino superior. Com o pseudônimo de Maria da Ilha, Antonieta fundou o jornal A semana. Em busca de tentar melhorar o cenário da educação, elegeu-se deputada e ajudou a aprovar leis para concessão de bolsas de estudos para o ensino superior e ampliação da alfabetização. Reeleita para um segundo mandato, foi em 1948 que Antonieta criou a lei que instituiu em Santa Catariana o Dia do Professor em 15 de outubro, data que depois foi implementada nacionalmente, em 1963. A professora e jornalista foi pioneira e inspiração para o movimento negro, além uma ativa defensora da emancipação feminina e de uma educação de qualidade para todos. Antonieta morreu de complicações da diabete, em 1952.
Êda Luiz é uma educadora paulista já aposentada que começou a ensinar nos anos 1960, aos 15 anos, antes mesmo de se formar no magistério. Passou por uma escola rural, foi professora na antiga FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do menor), ensinou crianças da educação infantil, e em 1983, começou a trabalhar com Educação de Jovens Adultos (EJA). Foi nessa especialidade que Êda assumiu, em 2002, o cargo de coordenadora pedagógica do CIEJA Campo Limpo, na capital paulista, um centro educacional dedicado ao EJA, que ela dirigiu por 20 anos. Foi Êda que instituiu ali um modelo de educação inclusiva para adultos e jovens das comunidades periféricas da zona sul de São Paulo, acolhendo alunos que foram excluídos de alguma forma. A iniciativa inovadora e inclusiva virou referência nacional, sendo reconhecida como Escola de Educação Transformadora para o Século XXI, em 2017, pela UNESCO – uma das duas únicas escolas no Brasil a receber esse título. Para superar um problema comum na educação de jovens e adultos que já passaram pelos bancos escolares e se desmotivaram por reprovar diversas vezes as mesmas séries, Êda criou um modelo que funciona em três turnos e recebe alunos de perfis variados, de ex-dependentes químicos a idosos, além de pessoas com graus variados de deficiências. Com grupos de estudantes tão heterogêneos, ela remodelou o currículo, que se divide em ciclos por áreas de conhecimento e não por séries, como na escola tradicional. Assim, alunos com muita dificuldade passam mais tempo no mesmo ciclo, antes de serem promovidos. E, nos ciclos mais avançados, eles trabalham com temas pertinentes às vidas deles, o que garante o interesse e o sucesso do aprendizado. O CIEJA atende cerca de 1500 alunos, sendo mais de 200 com necessidades especiais.